10.02.21
(conto #1)
as duas mulheres reconhecem-se. o espanto denuncia-as. o cirurgião pergunta-lhes se têm alguma dúvida e a enfermeira pede uns minutos a sós com a tradutora pois, não havendo nada para ler ou escrever, é menos uma pessoa no bloco operatório. o chefe concorda e dá ordens para que as guiem até ao seu gabinete, para terem mais privacidade. as duas mulheres trocam um olhar de um milionésimo de segundo de pânico. o médico regista-o. diz que vão começar a cirurgia, que é um caso de vida ou de morte. as peças do puzzle começam a fazer sentido para ambas. conhecem-se desde a infância, apesar de terem optado por caminhos opostos sempre se protegeram uma à outra. o trabalho de uma nunca tinha interferido com o da outra. estão a improvisar sem rede. são então guiadas para um gabinete que não têm a mínima dúvida está sob escuta. a enfermeira sente-se a ser testada. a tradutora sente-se na iminência de ser desmascarada.
(continua)